Entrevista a Hélio Morais, Músico Português (Linda Martini, Paus, If Lucy Fell)

Lembram-se de ontem ter falado na nova vaga de entrevistas que esperava vir a conseguir que invadisse o blog? Pois bem, hoje começamos, oficialmente, com a entrevista de um grande músico português, o Hélio Morais. Baterista desde pequenino, membro de três bandas, agente e dinamizador da música nacional, o Hélio aceitou responder a algumas perguntas e satisfazer algumas curiosidades. É uma pessoa que admiro e não sei de melhor escolha para estrear as entrevistas ligadas ao mundo da música. Sabiam que também tem um blog onde escreve textos seus originais e que estudou engenharia no ISEL? Bem, podem saber sobre isto e muito mais através das suas respostas. Obrigada, Hélio, pela simpatia e prontidão, adorei fazer esta entrevista. Fiquem com o Hélio Morais!

Hélio, desde os 13 anos que estás ligado à música, em especial através da bateria. Conta-nos de onde veio esta tua paixão pela música e por esse instrumento musical?

A paixão pela música, mais a sério, despertou com os Metallica. Foi a primeira banda de quem fui realmente fã. Tinha os posters, as cassetes com os álbuns todos e comecei a tocar bateria muito por culpa do Lars Ulrich. Mas já antes um vídeo dos Europe me tinha ficado na memória, por causa do pedal do bombo.

Que impacto é que a música tem vindo a ter na tua maneira de ser e na forma como vês o mundo?

Acho que é mais a minha maneira de ser e de ver o Mundo que se traduz para a forma como interpreto a música, que o contrário. No entanto tu também te tornas no que és, pelos amigos que tens, pelos sítios que visitas, palas pessoas que conheces, etc. E nesse sentido, uma vez que a música me leva a viajar, a lidar com a forma como a sua industria funciona e a ter um grupo grande de amigos ligado à mesma, acaba por também ter impacto na pessoa que sou hoje e que vou continuando a construir.

Sei que frequentaste o ISEL. Como foi conjugar a engenharia com a música, sendo áreas tão distintas? Imaginas como seria a tua vida se tivesses optado pela engenharia?

A partir do momento em que a música passou a ter uma presença maior na minha vida, deixou de haver conjugação possível. O tempo dispensado a uma e outra foi-se tornando inversamente proporcional e às tantas tive que optar pela que me fazia mais feliz. Não me imagino, de todo, Engenheiro. Não gosto, simplesmente. Gosto de matemática; não gosto de Electrotécnica, que era a minha área de estudo.

És músico, és agente, és blogger, amigo, filho, enfim, uma pessoa mais do que versátil! Comecemos por explorar a primeira. Tens no teu currículo bandas como If Lucy Fell, Linda Martini e Paus. Do que conheço, todas com estilos sonoros diferentes. É fácil adaptares-te a cada uma? Chegares aos ensaios, vestires a pele de cada banda, esquecendo as outras? Achas que no fim, todas se complementam em ti?

E não somos todos versáteis? Viver e conviver é isso mesmo; ser versátil, ter capacidade para interiorizar, aprender, aplicar, etc. Isso torna-nos versáteis. Uns mais, outros menos.

Quanto à música, todas as bandas que referes têm um cunho bastante distinto entre si. Não é difícil adaptar-me a cada uma. Em PAUS, muitas das composições surgem de ritmos de bateria, por isso,  talvez seja a banda em que imprimo um cunho mais pessoal. Em Linda Martini e em If Lucy Fell, são mais as vezes que interpreto ou opino sobre coisas compostas pelas guitarras, ou pelo baixo, do que o contrário. E como a forma do Rui (If Lucy Fell) e a do André (Linda Martini) – que são quem mais frequentemente compõe – é tão diferente, acabo por ser, naturalmente, diferente em cada uma delas. Mas não sinto que tenha que vestir uma pele para cada uma delas. São essencialmente um grupo de amigos muito forte.  E sou a mesma pessoa em todas elas. Enquanto músico, claro que o facto de tocar em todas elas, acabo por ganhar recursos e versatilidade.

Trabalhas na Concertina desde Maio de 2012 e fazes agenciamento de artistas como Capitão Fausto, Filho da Mãe, a tua própria banda PAUS, Riding Pânico e You Can’t Win Charlie Brown. Como é que é lidar com todos estes artistas? Eles influenciam-te, de alguma forma?

Não trabalho, propriamente, na Concertina. A Concertina sou eu. É uma plataforma que encontrei para trabalhar, exclusivamente, artistas que admiro imenso e com quem tenho uma relação próxima. Não é, nem pretende ser, uma empresa, ou uma agência, nos moldes em que normalmente funcionam. Trabalhei demasiados anos noutras agências e editoras e acabas sempre por ter que trabalhar coisas de que gostas menos. Ora, eu gosto muito de música, e isso faz com que queira, enquanto for possível, trabalhar exclusivamente artistas de que gosto. Também é uma plataforma que quero ver em ponto pequeno. Não pretendo adicionar mais bandas, porque isso roubar-me-ia mais tempo que possa ter para as minhas próprias bandas.

Do teu ponto de vista, como é que caracterizas o mercado musical nacional? Sentes que há espaço para bandas como as referidas anteriormente vingarem? Que tipo de público é que é o português? Preconceituoso, receptivo, mente aberta, mesquinho, entusiasta? 

O mercado musical nacional ainda está a crescer. Já há imensas bandas e músicos muito bons. Não é por falta de boa música que ainda não está como seria desejável. Falta, a meu ver, um circuito forte de salas como o Musicbox, a Zdb, ou o Hard Club, espalhadas pelo país inteiro, com uma programação constante. Os Teatros ainda conseguiram desempenhar esse papel durante um período de tempo mas as programações, algumas delas puramente irresponsáveis, fizeram com que esse circuito sempre tenha sido, de certa forma, um pouco elitista, e tenha com isso impossibilitado a chegada de um leque mais amplo de propostas às pessoas espalhadas pelo país inteiro. Agora também já vamos tarde, que os dinheiros públicos estão a deixar de existir, para esse propósito. Deveríamos ter usado esses dinheiros para criar, nas populações, o hábito de ver e pagar música. Ao invés, talvez alguns programadores tenham olhado demasiado para o seu umbigo. Sou a favor de projectos que gerem bilheteira, bem como de projectos que não o façam. E é aí que deve entrar o Programador que tem ao seu dispor dinheiros públicos. Olhar para o orçamento que tem e programar de acordo com isso.

Tens alguma experiência em particular, algum concerto, com uma das bandas, que gostasses de partilhar connosco? 

A experiência mais fora, talvez tenha sido um concerto de If Lucy Fell no Milhões de Festa, quando ainda era no Censura Prévia, em Braga. Íamos morrendo electrocutados – passe o exagero. O concerto era no chão e estava encharcado de cerveja. Passámos o tempo a apanhar choques eléctricos. Mas foi muito bom e intenso; acabou por ser cristalizado no “Zebra Dance”, na música “La Decadance”.

Muitas vezes temos bandas nacionais a terem mais sucesso lá fora do que em Portugal. Tens algum juízo formado sobre este fenómeno?

O mercado exterior é muito maior que o nacional. Por isso, talvez seja mais fácil, por vezes, haver mais pessoas de fora a gostar de determinada banda, que portuguesas. Claro que ainda há algum preconceito em relação ao que é nacional e isso também pode ter influência. Mas tem mudado bastante nos últimos anos e creio que tem tendência a desaparecer.

Faz 10 anos que manténs o blog Morte e um Piano. Explica-nos o conceito do mesmo.

10 anos bastante intermitentes, diga-se. Não tem conceito. É só um espaço onde partilho alguns pensamentos, algumas experiências pessoais, umas mais reais, outras mais ficcionadas. É também o cristalizar de algumas das coisas que escrevo. Ao torna-las públicas, elas passam a existir para além de mim.

Gostas tanto de ler como de escrever? Tens algum livro preferido ou que te tenha marcado especialmente?

Gosto bastante de ler e tenho pena que não o consiga fazer mais. O livro que li de forma mais compulsiva, foi o “Memorial do Convento”, do José Saramago. Mas guardo igualmente com muito carinho, o “Levantado do Chão”.

A pergunta que te faço agora é um pouco pessoal e só respondes se quiseres. Fazendo parte de tantos projectos, estando em constantes tours com as diferentes bandas, etc., como é que a tua vida pessoal se encaixa no meio disso tudo? Consideras que tens tempo e espaço para ti mesmo?

Sim, tenho. Viajo bastante, mas a verdade é que depois acabo por ter bastante tempo em casa. Tenta-se sempre que o tempo em casa seja usufruído ao máximo. Se calhar tenho mais tempo de qualidade em casa, somando tudo ao final do ano, do que alguém que trabalhe 9 horas por dia e perca mais 2 no percurso de casa/trabalho/casa. Havendo vontade, há sempre encaixe possível.

O que é que podemos esperar de ti em projectos num futuro próximo? 

Para já estamos a preparar a edição de Turbo Lento, o disco novo de Linda Martini. Sai no dia 30 de Setembro. Estou também em estúdio com PAUS, a finalizar o primeiro single do próximo disco, a ser editado em meados de 2014. Vamos fazer uma tour de 9 datas, por Espanha, para o promover. Será enquadrada no Primavera Sound Touring Party. E entretanto há reunião de If Lucy Fell em Outubro; dia 25 no Musicbox, em Lisboa e dia 26 no GNRation, em Braga.

Pergunta da praxe: Já conhecias o blog Morrighan? Tens opinião sobre o mesmo? (Sê sincero à vontade, se for não é não!) Queres deixar uma mensagem aos meus leitores?

Para ser sincero e apesar de já ouvir o nome há algum tempo, ainda não me tinha dignado a procura-lo. No entanto, foi o que acabei de fazer e fiquei positivamente surpreendido. Vou perder algum tempo a descobri-lo. Quanto a mensagens, procurem fazer aquilo que realmente vos faz feliz. Nem sempre conseguimos e quando o alcançamos, nem sempre é fácil. Mas também é isso que nos mantém vivos.

Bandas do Hélio

If Lucy Fell: https://www.facebook.com/iflucyfellrock?fref=ts

Linda Martini: https://www.facebook.com/lindamartinirock?ref=ts&fref=ts

Paus: https://www.facebook.com/pausoficial?fref=ts

Blog Morte e Um Piano: http://morteeumpiano.blogspot.pt/

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  • Sobre

    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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