Opinião: As Primeiras Coisas de Bruno Vieira Amaral

As Primeiras Coisas

Bruno Vieira Amaral

Editora: Quetzal

Sinopse: Memórias, embustes, traições, homicídios, sermões de pastores evangélicos, crónicas de futebol, gastronomia, um inventário de sons, uma viagem de autocarro, as manhãs de Domingo, meteorologia, o Apocalipse, a Grande Pintura de 1990, o inferno, os pretos, os ciganos, os brancos das barracas, os retornados.

Quem matou Joãozinho Treme-Treme no terreno perto do depósito da água? O que aconteceu à virginal Vera, desaparecida de casa dos pais a dois meses de completar os dezasseis anos? Quem foi o homem que, a exemplo do velho Abel, encontrou a paz sob o céu pacífico de Port of Spain? Porque é que os habitantes do Bairro Amélia nunca esquecerão o Carnaval de 1989? Quem é que poderá saber o nome das três crianças mortas por asfixia no interior de uma arca? Onde teria chegado Beto com o seu maravilhoso pé esquerdo se não fosse aquela noite aziaga de setembro? Quantos anos irá durar o enguiço de Laura? De que mundo vêm as sombras de Ernesto, fabuloso empregado de mesa, Fernando T., assassinado a 26 de dezembro de 1999, Jaime Lopes, fumador de SG Ventil, Hortênsia, que viveu e morreu com medo de tudo? Quando é que Roberto, anjo exterminador, chegará ao bairro para consumar a sua vingança?

Opinião: As Primeiras Coisas tem sido um livro especial por variadíssimas razões. A começar pelo autor, Bruno Vieira Amaral, por alguns conhecido como crítico literário na revista ler, por outros como editor no grupo Bertrand ou então agora como um autor estreante, mas que de novato na escrita aparenta ter muito pouco. De forma arrojada e surpreendente, a leitura deste primeiro romance de Bruno Vieira Amaral criou em mim um misto de sensações e emoções levando-me a cenários genialmente descritos.

O autor começa por nos contextualizar em tema e acção, apresentando-nos um narrador, Bruno, em situação peculiar, divorciado, desempregado, que decide voltar às origens, onde tudo começou, o Bairro Amélia, fazendo-se acompanhar de Virgílio, um fotógrafo que parece ter visto tudo, saber tudo, e que o ajuda a passear pelo tempo revisitando as vidas de tantos que deixaram a sua marca, visível ou não, nesta pequena localidade da Margem Sul.

Organizado com um prólogos (47 páginas), fichas individuais (cerca de uma centena), um epílogo e 95 notas de rodapé (cada uma mais genial que a outra), este romance confronta o leitor com uma visão do quotidiano português bairrista crua e dura. Não é um romance convencional, de enredo direitinho com cabeça tronco e membros, mas antes uma viagem entre fantasmas, mistérios, obscuridades, melancolias, algo desconexa, mas cuja teia vai sendo tecendo de forma quase imperceptível, porém irrevogável.

As personagens têm um cariz único, a linguagem é completamente adequada, por vezes chocante, mas não despropositada. Tenho de reforçar que houve alturas em que quase só ansiava pela próxima nota de rodapé, acreditem, ignorá-las é a maior burrice que o leitor pode fazer. A escrita é fluida, diria até cativante. Penso que essencialmente é um livro que ou se admira ou se detesta. Por ser diferente. Por ousar fugir ao que normalmente se espera do romance comum e desafiar os leitores a conhecer toda uma outra realidade. A meu ver, o menos bom acabou por ser o epílogo, soube a pouco, queria mais. 

Parabéns ao autor por este atrevimento e que venham muitos mais.

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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