Opinião: A Rapariga-Corvo de Erik Axl Sund

A Rapariga-Corvo 

Erik Axl Sund

Editora: Bertrand

Sinopse: Jeanette Kihlberg está a investigar uma série de homicídios macabros que há meses se sucedem em Estocolmo. O caso é complexo, uma vez que as vítimas são meninos estrangeiros não identificados, e a polícia está a ter muitas dificuldades em fazer avançar a investigação.

Sofia Zetterlund foi psicoterapeuta de uma das vítimas, um menino-soldado da Serra Leoa, e, por isso, é chamada a ajudar. Mas Sofia tem outra paciente a absorver a sua atenção: Victoria Bergman, uma mulher fascinante que sofre de distúrbio dissociativo da personalidade e tenta enfrentar os fantasmas de uma infância muito dolorosa.

À medida que as duas mulheres se vão aproximando cada vez mais uma da outra e dos casos que têm em mãos, os segredos, ameaças e dificuldades não param de crescer à sua volta. Parece que alguém muito poderoso tem interesse em parar a investigação de Jeanette. E Sofia tem vindo a mergulhar cada vez mais profundamente na sua história pessoal, recuperando memórias e experiências há muito escondidas e silenciadas dentro de si. As duas protagonistas unem forças para perseguir um assassino cruel, mas, pelo caminho, vão ser obrigadas a enfrentar-se a elas próprias e aos seus segredos mais negros.

Opinião: Não são assim tão poucos os livros que mexem com os leitores, mas são menos aqueles que nos provocam um desassossego tal que por vezes temos mesmo de pausar a leitura. Suspender um pouco, retirar as imagens da nossa cabeça depois de absorver o impacto provocado pelas mesmas. A Rapariga-Corvo, o livro de abertura da trilogia As Faces de Victoria Bergman, é uma destas obras que fazem o estômago contorcer-se, que nos fazem questionar o que está por trás de cada rosto que encontramos na rua, de que material é que realmente as pessoas são feitas.

O enredo está muito bem construído. As personagens vão-se tornando cada vez mais sólidas ao longo da narrativa e o fio condutor adensa-se à medida que avançamos. Por vezes é como se houvesse muita informação por processar, o cérebro não para de trabalhar, de tentar fazer associações, de descortinar o início do rastilho que irá provocar o êxtase final. É uma obra carregada de tensão, de uma violência psicológica por vezes esmagadora, mas genialmente bem escrito. 

O leitor é confrontado com temas como tráfico de crianças, abuso infantil, pedofilia, a distorção da personalidade na tentativa de adaptação e sobrevivência à realidade imposta e ainda ao quotidiano de um casal que, com o passar do tempo, se transforma mais num daqueles rotineiros em que pequenas atitudes acabam por ter consequências futuras maiores do que poderiam imaginar. É com uma grande cautela que caminhamos através dos pormenores, muitas vezes macabros, ao mesmo tempo que, incrédulos, juntamos as peças e tememos pelo futuro de algumas personagens.

A capacidade de escrita e de projecção psicológica desta dupla sueca deixou-me rendida. Abordando o que de pior o ser humano tem, escavando às profundezas da maldade e perversidade humanas, de uma forma tão aberta e real, acabam por criar uma espécie de alerta em quem os lê. A forma intrincada como tecem o destino de cada personagem, os jogos mentais e os sinais que só o leitor vê, mas que anseia que a protagonista também se aperceba, criam um ciclo vicioso de leitura. 

Estamos perante dois mestres, que se dão pelo nome de Erik Axl Sund, do thriller/terror psicológico. Dos melhores livros que já li, salvaguardando a necessidade de por vezes respirar fundo antes de continuar. Para as mentes sensíveis, um alerta – este livro não é facilmente digerível e provoca emoções fortes. O fim, bem, esse só nos deixa em perplexo estado de alerta para o próximo volume que anseio vorazmente. 

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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