[Crónica Rafael Loureiro] A Jornada do Herói (Joseph Campbell) enquanto guia para a construção de um enredo

    Nas palestras que fui convidado a realizar debatia-me sempre com a ideia de passar 90 minutos a falar de mim e da Trilogia Nocturnus. Não que não tivesse uma apresentação para fazer neste tempo, mas por me parecer um tanto ou quanto narcísico estar tanto tempo a falar de mim e das minhas obras.

    Deste modo, optei por revelar um pouco dos bastidores da criação de um livro e assim tentar fazer florescer novos escritores por entre as camadas jovens.

    Foi então então que nasceu Livro: da Ideia à Publicação: uma palestra simples, com todos os passos e informações necessárias para a criação de um livro – na minha perspectiva, claro.

    Quando convidado pela Sofia para escrever um artigo para o Morrighan, optei por apresentar um dos meus capítulos favoritos deste trabalho: Criar o enredo. Mas para isto preciso antes de apresentar alguém: Joseph Campbell.

    Joseph Campbell foi um estudioso de mitos e lendas, norte-americano, nascido em 1904. Com um percurso académico exemplar, recolheu milhares de histórias, de diferentes épocas e culturas, e analisou-as “anatomicamente” tentando responder à questão: porque existem histórias que se imortalizaram? O que faz com que estas histórias passem de geração em geração?

    O que ele descobriu – e que agora é certamente senso comum – é que antes de mais o leitor (ou receptor) tem que se identificar com o Herói, ou com a história em si, tem que se comover com ela e, no final, percebendo ou não, ter-se transformado.

    Campbell percebeu então que havia um padrão, etapas, nestas histórias e descreveu-as como A Jornada do Herói que passo a descrever de uma forma muito resumida.


1. Mundo Normal

O herói está na sua vida quotidiana.

2. Chamamento para a aventura

Dá-se um acontecimento fora do comum que quebra a rotina do herói.

3. Recusa do chamamento

O herói recusa o chamamento. Afinal, será melhor manter a vida no seu ritmo normal.

4. Encontro com o mentor

Neste ponto, o herói pode encontrar-se literalmente com alguém mais experiente. Pode ser também uma situação metafórica na qual o herói supera o seu medo de agir.

5. Travessia do limiar

Neste ponto, o herói, forçado ou de maneira espontânea, sai da rotina e entra num mundo de situações especiais.


6. Testes, aliados e inimigos

É aqui que se passará a maior parte da narrativa. O herói será testado pelo destino, ou pelos inimigos, encontrará aliados e aprenderá lições importantes. Verá uma realidade que nunca viu.

7. Aproximação do objectivo

O herói aproxima-se do seu objectivo. O clima adensa-se e a tensão aumenta. As situações tornam-se incertas, mas ele sente que está mudado, preparado para enfrentar o destino.

8. Provação suprema

É o auge. O herói enfrenta o seu maior desafio. Quanto maior o risco, maior será a emoção para o leitor. Muitas vezes o herói enfrenta a sua morte.

9. Conquista da recompensa

É o final da crise. O herói conquista o que desejava e é recompensado.


10. Caminho de volta

Esta fase é habitualmente muito curta. O herói volta ao seu mundo normal e à sua rotina diária.


11. Depuração / Ressurreição

Aqui, o herói pode ainda enfrentar uma situação secundária que tenha ficado em aberto na história. Poderá ser uma surpresa ou uma má notícia, um gancho que poderá deixar a história aberta para continuar no futuro.

12. Regresso transformado

O herói volta à sua rotina diária, mas esta aventura mudou-o, fê-lo ver uma realidade completamente diferente da que conhecia. Está transformado.

    Depois de lermos estas etapas e pensarmos um pouco naquilo que já lemos ou filmes a que assistimos, podemos reconhecer que (grande) parte usa esta “fórmula”.

    Apesar de este ser um molde digno de grande reconhecimento (como é óbvio!), aos novos escritores o meu conselho é sempre o mesmo: ser criativo!

   

    Por fim, deixo um vídeo que vem ilustrar o acima citado.

    Espero que tivessem achado útil ou pelo menos curioso. 🙂

    Rafael Loureiro

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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