[Opinião Blog Morrighan] Keep Razors Sharp, o disco que supera o Rock

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Falar de Keep Razors Sharp não é fácil. Podia ser, só que não é, de tão bom que se tornou descobri-los. Podemos ler muito na comunicação social sobre uma banda, mas só mesmo ouvindo e sentido é que podemos fazer as devidas observações. A primeira, para mim, é evidente: existe uma aura mística e sensual, por vezes até sexual, à volta do som de Keep Razors Sharp que é raro encontrar em qualquer outro projecto. 

O disco é iniciado por The Lioness, em tom dançante, com a bateria a marcar o passo e as guitarras e o baixo a levarem-nos por universos etéreos também através das vozes de Afonso e Rai. 

I See Your Face, o primeiro single deste disco, lançado ainda em 2013, assume a responsabilidade de elevar ainda mais a fasquia sonora. Nesta, é a guitarra que assume o início, seguida pelo baixo, levando-nos, durante três minutos e meio, a visitar um lado um pouco mais agressivo do seu som. A própria letra da música, aliada à melodia, projectam uma imagética de perseguição, quais predador e presa, num claro sinal de perigo. Perigo esse também para o ouvinte que facilmente fica viciado. 

Num tom mais calmo, quase deambulante, segue-se By the Sea, onde surge um «Baby I’m tired of sleeping alone» evocando memórias antigas, uma viagem pela marginal noite dentro, enquanto recordamos momentos mais intimistas.

Uma das coisas que mais me fascina neste disco é a capacidade que o conjunto tem de, de forma harmoniosa, mudar de registo de uma faixa para outra, fazendo emergir emoções completamente diferentes das anteriores. 9th é a quarta música do disco homónio de Keep Razors Sharp e, ao contrário da anterior, volta a um tom mais sombrio, mais atormentado. Temos guitarras vingativas, um baixo e uma bateria inconformados, a letra complementa, e o resultado é simplesmente fervoroso. 

Waiting Game dá continuidade a uma narrativa atraente, em que a voz e o rock mais psicadélico, nos voltam a remeter para um universo a dois de forças algo incompreensíveis, mas intensas. 

Princípio comedido, o de Five Miles, desafiante. Existe uma voluptuosidade no ritmo, na harmonia entre os vários instrumentos que encanta, que chama por nós. Seguida de Salt Flats, um pouco na mesma onda efémera, estas duas músicas acabam por funcionar um pouco como um interlúdio lírico do disco onde a beleza reside é fechar os olhos e deixarmo-nos levar.

Passada a calmia, é a vez a cabeça voltar a mexer com Cold Feet. Esta é uma daquelas músicas que ressuscita demónios, que apela à cautela da repetição através de ecos vocais e de compassos em loop

Sure Thing, novamente numa onda mais oriental, psicadélica, rompe as defesas de quem a ouve e obriga as pernas a mexer. Existe quase uma necessidade de corrermos para longe dos tormentos que nos assombram, em que por vezes a presa de torna no seu próprio predador. 

É em pé irrequieto que continuamos com Africa on Ice. O disco está quase a terminar, mas queremos tudo menos que chegue ao fim. Instalamo-nos confortavelmente numa nova diversidade sonora de pulsação forte, num arranjo de cordas harmonioso com os pedais e a bateria. Esta é aquela música que, iniciando, nos provoca o corpo e a dança só termina no último segundo. 

Scars & Bones, última música do disco, tem um registo mais íntimo, talvez mesmo a evocar um adeus ou, espero eu, um até breve. Esta é a música que mais viagem entre os vários géneros encontrados ao longo do álbum todo. Entre vozes e solos, a responsabilidade de balanço salta para o ouvinte. 

O meu balanço é notório – para uma banda que começou de forma completamente despretensiosa, cujas músicas resultaram do encontro a quatro em poucas idas ao estúdio, o álbum está uma relíquia. É sabida a experiência de cada um dos elementos em bandas anteriores/paralelas, mas raramente é certo que um projecto deste género funcione à primeira. No caso dos Keep Razors Sharp, não só funcionou como encantou e conquistou. Desde as puxadas mais rock, às viagens pelo psicadélico e à liberalidade do Indie, o equilíbrio é coisa que se tem, mas que se quer perder à medida que os ouvimos. Não há um género específico onde encaixar esta banda, nem os três acima mencionados são suficientes. E isso, meus caros, não é para todos.

Aproveito para deixar uma linha à Sara Feio, autora do artwork do disco que está fenomenal. Um autêntico reflexo do seu conceito e que o torna ainda mais bonito.

PS: Esta é uma daquelas bandas que me provoca a insatisfação de perceber tão pouco sobre música. Tudo o que aqui escrevi é subjectivo, uma vez que se tratam apenas das minhas interpretações. Estas podem até ser pobres no que toca a pormenores técnicos, mas posso assegurar que são ricas no que toca a emoções. Só posso esperar que uma coisa compense a outra.

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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