Opinião: O Peregrino, de Terry Hayes

Peregrino

Terry Hayes

Editora: TOPSELLER

Sinopse: Uma corrida vertiginosa contra o tempo e um inimigo implacável.

Uma jovem mulher brutalmente assassinada num hotel barato de Manhattan.

Um pai decapitado em praça pública sob o sol escaldante da Arábia Saudita.

Os olhos de um homem roubados do seu corpo ainda vivo.

Restos humanos ardendo em fogo lento na montanha de uma cordilheira no Afeganistão.

Uma conspiração para levar a cabo um crime terrível contra a Humanidade.

E um único homem para descobrir o ponto preciso onde estas histórias se cruzam: Peregrino.

Opinião: Muito se tem falado sobre este livro, Peregrino, e quem pega nela nem que seja por instantes, para ler as primeiras páginas nem que seja por curiosidade, percebe rapidamente porquê. O volume assusta, é verdade, são mais de seis centenas de páginas, mas valem a pena. Estamos perante uma obra que mistura o policial com o thriller, mete espionagem e terrorismo pelo meio, e ainda aborda motivações religiosas e amorosas para justificar as acções que se vão desenrolando. Não há como o leitor saber, ao início, a calamidade e a intensidade de tudo o que ainda está para decorrer. O que parece ser um caso de homicídio, em que o mistério deve-se ao facto deste seguir passos que antes haviam sido descritos num livro de um agente secreto, passa para algo muito, muito maior.

Sou da opinião que este livro tem o sucesso que tem graças à capacidade de organização e exaltação do autor. Passo a explicar: num livro em que abundam os saltos temporais e as mudanças de cenário, nem sempre está ao alcance de todos uma coordenação e um equilíbrio entre a adrenalina, a pausa e um desenvolvimento mais narrativo dos cenários. Imaginem quase 700 páginas de puro êxtase… Não parece muito possível, pois não? Pouco recheio poderia haver pelo meio. Terry Hayes soube ser paciente quando necessário para um maior aprofundamento das personagens. A construção de cada uma não foi linear, foi compassada ao ritmo em que os factos eram revelados e em que mesmo assim a dúvida se mantinha sempre.

Nos tempos que correm, e com os atentados em França e pelos restantes pontos do globo, este livro contém nele uma assertividade assustadora. Não acho que seja um livro que vá clarificar muito em relação a jihadistas ou ao auto proclamado estado islâmico, mas a simplicidade com que as questões religiosas são abordadas, contrastando com as consequências das acções e das escolhas, revela um poder e uma maturidade na escrita raros. Aliás, é assustador como é que o facto de uma mulher decidir lutar pelo sustento da sua família, tendo que para isso quebrar algumas regras culturais, seja razão suficiente para alguém enveredar pelo mundo do terrorismo e começar uma demanda pela destruição do mundo ocidental. Dito assim pode parecer estúpido, mas acreditem que a forma como o escritor expõe tudo tem coerência.

Foi uma leitura algo morosa porque a versão que eu recebi tinha letras muito pequeninas e quando pegava no livro o cansaço já apertava, mas acredito que para os leitores ávidos deste género literário seja bem mais rápido. Também acredito que seja um livro que divide opiniões por alguns dos pontos que mencionei antes: o facto de a narrativa evoluir com muitos eventos paralelos, saltos temporais, e um desenvolvimento mais lento quando se calhar por vezes o leitor queria andar mais depressa ou saber mais, pode deixar alguns leitores mais impacientes algures pelo meio da leitura, mas acredito que a espera vale a pena. O fim deixa-nos com um sabor agridoce. Existe aquele sentimento de conformismo, mas ao mesmo tempo de revolta em relação a tudo o que nos foi mostrado. Tenho pena que o Peregrino e o Sarraceno, o seu némesis, se tenham cruzado tão pouco e fica a curiosidade do destino do primeiro depois de tudo terminar. Venha o próximo livro do autor! 

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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