Entrevista a João Valente, autor do livro The Empire – A história da banda que se tornou uma lenda

Recentemente tive o prazer de receber um exemplar de avanço de um romance que promete vir a ser um sucesso. Mas é engraçado que ao pegar nele e ao mergulhar na sua história, muitas vezes questionei até que ponto este livro não seria um relato verídico, apenas camuflado com outros nomes e uma ou outra circunstância. É também de louvar a ousadia na estreia literária com uma obra que foge ao romance tradicional, optando pela exploração de um meio cultural que tantas vezes é subvalorizado e subentendido. The Empire traz-nos a história de um grupo de rapazes, que acaba por se transformar em banda, que não estavam minimamente preparados para as consequências das suas escolhas. E o que ao início parecia uma proposta milionária acabou por ter repercussões inimagináveis. É o típico “Sex, Drugs and Rock & Roll” mas explorado a um nível muito íntimo e profundo, dando luz às sombras de uma indústria que tanto salva como condena, principalmente quando as pessoas são facilmente influenciáveis por companhias duvidosas. Para quem gosta de um bom romance e para quem é um apaixonado pelo rock, esta é sem dúvida uma leitura obrigatória. Entretanto, fiquem com a entrevista ao autor, João Valente. O livro sai a 28 de Março e a sua apresentação é dia 1 de Abril, com a presença de Afonso Cruz. Entretanto visitem a página: https://www.facebook.com/The-Empire-1706727676207202/

João, o que nos podes contar sobre ti e o teu percurso até à tua estreia no romance The Empire?

A minha vida é semelhante à de qualquer rapaz nascido em Lisboa, no final da década de 70. Tive a felicidade de estudar um ano no estrangeiro, depois de acabar a faculdade, e de, desde então, ter um emprego que me permite ter estabilidade e independência financeira. Sei que, hoje em dia, sou um privilegiado. De resto, acordo à mesma hora que a maioria dos lisboetas, levo os meus filhos à escola, vou trabalhar e por aí fora.

Como é que a escrita surge na tua vida? 

Na verdade, esteve sempre presente. Gosto muito de ler e escrever acaba por ser uma continuação natural desse gosto. Lembro-me que, na primária, fazia muitas histórias aos quadradinhos inspiradas no Michel Vaillant e no Blake & Mortimer. Os textos das vinhetas eram reduzidos e aquilo funcionava bem na minha cabeça. Mas como não tenho jeito para desenhar acabei por concentrar-me mais na escrita. E os textos foram crescendo em tamanho.

Em 2014 foste escolhido como um dos Novos Talento FNAC – Literatura. Que impacto é que este acontecimento teve na tua escrita? 

É importante porque dá confiança a quem nunca publicou. Uma coisa é escrever e guardar os textos na gaveta. Outra coisa é mostrar o que se escreveu a terceiros. É complicado… E sempre duvidei da opinião dos amigos e da família. Podes chamar-lhe insegurança, se quiseres… Uma distinção como esta acaba por nos dar mais confiança.

Quando é que alguém se sente verdadeiramente um escritor? Desde o primeiro dia que esboça o seu primeiro rascunho ou apenas quando surge o primeiro romance publicado? 

Quem gosta de escrever, escreve. Ponto final. Não consegue evitá-lo. Mas ser escritor é outra coisa. A minha definição preferida – por ser muito pragmática – é atribuída ao Stephen King (não sei se correctamente): ser escritor é alguém que escreve um texto, o entrega a um editor e receber de volta um cheque, com provisão, que lhe permite comprar um pacote de leite.

The Empire fala sobre a história de uma banda que contra todas as probabilidades teve um enorme sucesso, mas com um preço talvez demasiado elevado. Antes de chegarmos lá conta-nos, o que te atraiu na história da banda para escreveres sobre ela?

A ideia de misturar a realidade com a ficção. Podia inventar o que quisesse no processo de escrita, mas, depois, tinha de ancorar essa ficção na realidade. É por isso que temos os The Empire no Natal dos Hospitais, a ter problemas com o Patriot Act em Washington e a negociar um patrocínio com a Coca-Cola. E as datas e os eventos tinham de encaixar correctamente como se fossem um puzzle. Além disso, investiguei as biografias de muitas bandas e artistas. É curioso que, por vezes, dava por mim a pensar: “nunca poderia usar isto. Um leitor nunca acreditaria nisto”. Mas a verdade é que determinada situação tinha acontecido mesmo. A realidade ultrapassa a ficção em muitas ocasiões. 

Houve algum dos elementos que te tenha marcado mais? Que enquanto escrevias sobre ele te tenha custado particularmente? 

Dar um desfecho à história do Laffite foi difícil. Sabia o que a história pedia, mas quis evitá-lo a todo o custo. ainda por cima, por ser logo na primeira parte do livro. Acabei por ficar muito ligado a esta personagem. 

É de senso comum que a música salva muita gente, mas muitas vezes condena quem lhe dá corpo e alma. Sentiste isso enquanto escrevias o livro? 

Sim. A música, como as artes em geral e o trabalho de criação, pressupõe uma entrega e uma vulnerabilidade muito grandes. Quem cria, expõe-se. A obra reflecte o que somos, de alguma maneira. 

Do que mais gostei no teu livro foi a forma honesta e tão real com que tudo está retratado. Estando eu em contacto com tantos projectos musicais aqui no BranMorrighan, houve alturas em que senti alguns arrepios de familiaridade. Afinal quão real é esta história? 

Essa ilusão de misturar a ficção com a realidade constitui o cerne do livro. Trata-se de uma banda inventada – os the Empire – que interage com os Pixies, dá entrevistas à New Musical Express e participa no MTV European Music Awards. A minha esperança é que a meio do livro, o leitor já não saiba se está a ler um romance ou uma biografia. Acrescento que foi uma surpresa ver a quantidade de gente, portuguesa e estrangeira, que autorizou entrar nesta aventura sem qualquer contrapartida. Lembro-me de receber a autorização dos Motorhead na quarta-feira anterior ao falecimento do Lemmy Kilmister e de ficar a pensar que este livro tinha de ser uma declaração de amor ao rock. 

Também não é muito comum termos romances de estreia neste contexto. O que é que te motivou a escrever a história dos The Empire? 

Os miúdos gostam de imitar o Ronaldo e o Messi. Como sabem que não conseguirão chegar a esse nível, imitam-nos. Sobretudo, se forem muito novos e ainda não tiverem vergonha de o assumir num recreio. Eu gostava de ter feito parte de uma banda com sucesso. Como me falta o talento, escrevi um romance em que imaginei o que podia ter acontecido. 

Pessoalmente, que bandas é que ouves? Tens alguma que te tenha marcado particularmente e até inspirado a escrever este romance?

Se repararem, a descrição do som da banda e até das próprias personagens é relativamente difusa. Quis que o leitor moldasse a banda e os músicos à imagem da sua imaginação.  De qualquer maneira, a música e a história dos Guns ’n Roses, T. Rex, Aerosmith ou Doors são uma boa banda sonora ou pano de fundo para ler o The Empire.

Claro que quem chega ao fim do livro teve não só direito a um romance como a uma série de letras em que o conteúdo passa pelo pessoal, político, romântico… Quais é que foram as tuas musas neste contexto?

Ao longo do romance fui falando de algumas das letras que os The Empire conceberam porque isso era importante para a estrutura da narrativa. Acabei por prolongar esse exercício e escrever as letras dos álbuns da banda. Achei que aumentava a credibilidade da biografia. 

The Empire está quase a chegar às livrarias, que expectativas é que tens? O que é que desejavas que acontecesse a este teu primeiro romance? 

Expectativa será uma forma civilizada de dizer nervosismo… Gostava que as pessoas entendessem a homenagem que quis fazer à música e às entidades e pessoas nomeadas. E existem, lá pelo meio, alguns eastar eggs: nomes de personagens, sítios ou entidades inventadas, mas que homenageam uma determinada pessoa ou situação. O mais importante é que o leitor se divirta a ler estas quase trezentas páginas. Por fim, era muito simpático que vendesse razoavelmente bem para uma primeira obra de um autor desconhecido. 

E o futuro, que nos trará o escritor João Valente num futuro próximo? 

Estou a decidir-me entre duas ou três outras histórias que estão alinhavadas. Todas elas, com contornos diferentes do The Empire, que foi um exercício muito singular. Mas de certeza que gostava muito de ter um novo romance a sair em 2017. 

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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