Opinião: Alçapão, de João Leal

Alçapão

João Leal

Editora: Quetzal


Sinopse: Quando Rodrigo chega a S. João, percebe que vai ter de crescer depressa se quiser sobreviver ao violento código que rege a vida dos órfãos. A aparição de um novo e pouco ortodoxo padre traz-lhe uma visão de esperança que promete mudar tudo. Mas uma maldição familiar emerge do passado. Uma série de assassínios brutais vai arrastá-lo, a ele e a Jorge, o seu único amigo, para um lugar sobrenatural escondido atrás de um misterioso alçapão.

Há séculos à deriva, os habitantes de Lothar, a ilha flutuante, pensam que são os únicos sobreviventes do Grande Dilúvio. No centro da ilha, numa árvore gigantesca, vive um anjo caído que é o seu deus. Um acontecimento, contudo, vai agitar o quotidiano e levar a que dois deles decidam partir.

João Leal, nesta sua homenagem plena de imaginação às histórias de aventuras, faz com que as duas narrativas, tão distantes no tempo, se encontrem num momento decisivo para a história da humanidade.

Opinião: Descobri o escritor João Leal apenas há umas semanas atrás, na Feira do Livro de Lisboa, aquando da publicação do seu segundo romance Terra Fresca. Estive presente na apresentação, muito bem complementada pelo Samuel Úria, e fiquei muito curiosa em relação à sua obra. Descobri nessa altura que havia uma anterior e como na sinopse referia que havia pontos que podiam ir buscar referências a essa estreia, decidi-me começar pelo mesmo, pelo Alçapão. Não foram precisas mais de meia dúzia de páginas para me surpreender com a rapidez com que fiquei agarrada à narrativa. Sei que devo ter lido umas oitenta páginas de enfiada, mas o curioso sobre Alçapão é que num livro que ronda apenas trezentas páginas, consegue conter pelo menos três narrativas de géneros muitos diferentes. E acho que foi essa oscilação que algures ali a meio me quebrou o ritmo. Não que a história se tenha tornado pior ou a qualidade da escrita tenha decrescido, pelo contrário, mas dei conta que os universos que se viriam a cruzar requeriam mais atenção e até concentração.

Acho que com este livro, João Leal podia ter escrito três. E três de três géneros diferentes. Fiquei tão curiosa sobre o que teria acontecido a Rodrigo e a Jorge se todo o universo mais fantástico não se tivesse iniciado… E depois fiquei completamente a pensar no que teria sido de toda a história anterior, mais completa, sobre Lothar, os seus habitantes e o próprio deus “regente”. A terceira parte junta tudo, e já me disseram que o livro seguinte, Terra Fresca, que irei ler brevemente, contém uma ou outra referência à presente obra. E isto não é uma coisa negativa, apenas aponto para o potencial de desenvolvimento que cada uma destas partes tinha para serem uma espécie de trilogia. 

Não estava realmente à espera de encontrar e temática da Torre de Babel aqui, mas acho que toda a questão religiosa e angelical do romance está narrada de forma a que puxe pelo interesse e curiosidade. Dado que todos os mitos religiosos sempre foram do meu interesse, não pela veracidade, mas antes pela diversidade, ler novas abordagens romanceadas é sempre interessante. Não me vou alongar muito mais, mas não quero terminar este pequeno texto sem referir que esta é uma forte primeira obra de João Leal, mas que quem pegar no livro tenha em atenção que não vai encontrar um história completamente linear, porém entusiasmante consegue ser de certeza, com um pouco de drama e adrenalina à mistura. A escrita é emocional quanto baste e é bastante apelativa. Para os mais aventureiros, aqui fica uma boa referência. 

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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