Opinião: I Love Dick, de Chris Kraus

I Love Dick

Chris Kraus

Sinopse: In I Love Dick (1997) Chris Kraus, author of Aliens &Anorexia, Torpor, and Video Green, boldly tears away the veil that separates fiction from reality and privacy from self-expression. It’s no wonder that upon publication in 1997 I Love Dick instantly elicited violent controversies and attracted a host of passionate admirers. The story is gripping enough: in 1994 a married failed independent filmmaker who is about to turn forty falls in love with a well-known art and culture theorist named Dick and endeavors to seduce him with the help of her husband, who is a definatly unconventional French academic with whom she hasn’t had sex in a very long time. 

But when the theorist refuses to answer her letters, husband and wife continue the correspondence for each other instead, imagining the fling the wife wishes to have with Dick. What follows is a breathless pursuit that takes the woman across America and away from her husband and far beyond her original infatuation into a discovery of the transformative power of first-person narrative. 

I Love Dick is a manifesto for a new kind of feminist who isn’t afraid to burn through her own narcissism in order to assume responsibility for herself and for the injustice in the world, and it’s a book you won’t put down until the author’s final, heroic acts of self-revelation and transformation.

Opinião: Acredito, cada vez mais, que há livros que se atravessam no nosso caminho por alguma razão. Quando estive em França numa conferência, no primeiro trimestre deste ano, cruzei-me com o Grief is the thing with feathers, na Shakespeare & Company (Paris), primeiro livro do autor, que foi recentemente publicado pela Elsinore. Foi um livro que na altura mexeu muito comigo e estou muito contente que Portugal tenha agora a oportunidade de o conhecer também. Como tenho viajado mais que o habitual, em Julho estive em Londres, também em trabalho, e no dia em que me pude dedicar a visitar galerias e livrarias, tropecei neste I Love Dick uma série de vezes. Foi na loja do Tate Modern que decidi investigar melhor que livro seria este e acabei por trazê-lo comigo.

I Love Dick foi publicado pela primeira vez em 1997. Após lido, é quase absurdo pensar que só agora está a ser publicado internacionalmente. Quando folheei as primeiras páginas e todas eram de citações, não só de críticos como de criativos, a curiosidade aguçou-se. Li cada uma delas e, mesmo sendo todas diferentes, havia um ponto comum – Chris Kraus desafiava a visão sobre o papel da mulher tanto no romance romântico como também na sociedade. E a verdade é que estes dois pontos facilmente se cruzam porque não são raras as vezes em que a imagem de um se reflecte no outro, mesmo que inconscientemente.

O título tem causado irreverência, o meu próprio irmão fez piadas com o facto de eu estar a lê-lo na praia, mas o conteúdo é pérola autêntica. De todos os livros que tenho, e não são poucos, este é provavelmente o mais sublinhado a seguir ao Pintor Debaixo do Lava-Loiças de Afonso Cruz. Temáticas completamente diferentes, profundidades semelhantes. Frases simples que por vezes têm o efeito de mexer com o nosso interior, de nos dar uma chapada ou apenas apelar ao reconhecimento. A leitura é tudo menos linear. I Love Dick começa com a história simples de um casal cuja diferença de idades e percurso laboral os leva a serem mais amigos do que amantes. Numa noite conhecem Dick, dormem em casa dele, e Chris sente que houve ali algo mais que simples cortesia, que houve algum flirt, quem sabe interesse, por parte de Dick. Ela partilha isto com o seu marido e a partir daqui ambos constroem toda uma fantasia que ganha vida através de uma série de cartas direccionadas a Dick, mas em que o casal parece comunicar, ao mesmo tempo, entre si. 

Estas cartas têm conteúdo diverso e tanto passamos pela luxúria como por um ambiente a roçar o noir. Terminado este processo a dois, Chris continua a escrever. A certa altura parece-me que não tanto para Dick, mas usando-o como um meio para poder extrair todos os ressentimentos, histórias e posições perante a vida que guarda para si. É entre alguns desabafos e relatos aparentemente aleatórios que nos vai sendo revelado o destino final entre ela e Dick. É engraçado que não foi tanto este core que me impressionou, mas mais o que foi dito através das narrativas paralelas. Existe uma honestidade e vulnerabilidade tocantes, ao mesmo tempo que existe uma forte tomada de posição no que toca à expressão sobre como a mulher é vista nos meios académicos e intelectuais. Agrada-me que seja uma mistura de novela com autobiografia. Tivéssemos todas a coragem de expor muita da tirania e da sensibilidade a que vamos sendo expostas tanto no romance, como na vida profissional. 

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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