Opinião: Filhos do Vento e do Mar, de Sandra Carvalho (Crónicas da Terra e do Mar – Livro II)

Filhos do Vento e do Mar (Crónicas da Terra e do Mar II)

Sandra Carvalho

Editora: Editorial Presença

Sinopse: Forçadas a fugir de Águas Santas para escapar à fúria de Tomás Rebelo, Leonor e Guida chegam ao porto de Lisboa e confrontam-se com Corvo, o famoso pirata sobre o qual se contam tantas lendas. Horrorizada com a descoberta de que é filha de Diogo, o Açor, Leonor decide disfarçar-se de rapaz quando Corvo a obriga a embarcar no seu navio, protegendo-se assim dos impulsos masculinos. Inconformada com o seu destino, Leonor resolve fazer tudo para escapar aos piratas. Porém, com o passar do tempo, sente a herança do Açor a despertar dentro dela. O segredo que ensombra o passado de Corvo começa a inflamar a sua curiosidade , enquanto estabelece amizade com os homens que tanto temia. Conseguirá ela regressar a Águas Santas e desmascarar a perversidade de Tomás Rebelo, ou o apelo da liberdade e da aventura, conjugado com a vontade de conhecer o seu verdadeiro pai, tornar-se-á irresistível?

OPINIÃO: O Olhar do Açor marcou o início de uma nova epopeia histórica e fantástica de Sandra Carvalho. Misturando história de Portugal com um misticismo delicioso, esse primeiro volume de Crónicas da Terra e do Mar apresentou-nos Leonor e a sua história cheia de segredos por revelar, envolta em muito amor, porém terrivelmente assombrado e manchado por Tomás Rebelo. Os acontecimentos finais deixaram-me com um aperto no peito, mas ao mesmo tempo com uma bela dose de esperança. Não resisti em reler esse primeiro capítulo do início ao fim e, logo de seguida, peguei avidamente neste Filhos do Vento e do Mar. 

Para quem ainda não leu, preparem-se, as vidas de Leonor e Guida estarão tudo menos facilitadas no início deste segundo volume. Depois dos terríveis eventos que marcaram para sempre as suas vidas, mudando-as irremediavelmente, ambas terão de percorrer caminhos muito diferentes, aceitando ou rebelando-se contra o inevitável. Sandra Carvalho fez um excelente trabalho de narrativa no desenvolvimento das personagens, tanto destas duas protagonistas, como dos restantes piratas. Apesar de nos vermos confrontados com uma quantidade considerável de novos companheiros nesta aventura, cada capítulo está minuciosamente cuidado na forma como introduz e dá forma, gradualmente, a cada um deles, sem que assim nos sintamos perdidos ou enfadados. Também a teia que os une e a forma como interagem uns com os outros, faz com que se crie uma ligação muito próxima com o leitor, pois cada um deles, uns mais do que outros, vai ter um papel importante na história.

Também o decurso da trama se desenvolve a um bom ritmo, havendo espaço para se explorar não só vários dos mistérios pendentes do livro anterior, como para obtermos novas curiosidades sobre a relação entre a descoberta dos Açores e a história de Corvo. Mas não se enganem, enquanto que em O Olhar do Açor nos foi dada uma visão bastante realista de como é que a sociedade na altura funcionava no que toca a estatutos, famílias e descendências, em Filhos do Vento e do Mar é-nos dada toda uma outra visão mais intrépida, pelos piratas. E se no início deste segundo volume só me apetecia esbofetear Leonor, foi com grado que assisti a uma mudança gradual na sua personalidade, mais uma vez calculada de forma muito inteligente pela autora, que, mesmo disfarçada de rapaz, entre a impertinência e a resignação, vai criando uma ligação cada vez maior com Corvo. É nesta expectativa também crescente que vamos devorando página após página até ao desfecho final. Adorei Corvo, um homem que tem tanto de frágil como de forte, dois extremos que arranjam equilíbrio numa capa tão dura quanto delicada e com um legado que tanto é uma benção como um fardo pesado. 

Estou muito curiosa com o próximo, e último, volume, pois ainda existem muitas perguntas por responder e, claro, espero ansiosamente pelo encontro entre Leonor e o Açor. Sandra Carvalho mostra mais uma vez porque é que é a grande rainha do fantástico em Portugal, pois os seus livros são sempre muito mais do que a soma dos seus capítulos, são sempre pequenos tesouros que nos enternecem, comovem, enfurecem e redimem. Existe espaço para tudo: para a bondade, para a benevolência, para o amor, para a paixão, mas também para a violência, para o ódio, para a vingança, para a luta incessante pela justiça. Com sorte, um pouco de redenção. São sempre narrativas envolventes e mágicas que nos fazem sair deste universo por uns instantes. É claro que recomendo. 

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  • Sobre

    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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