Entrevista aos For Pete Sake, Banda Portuguesa [Banda Fusing]

Portugal atravessa um grande momento no que toca a projectos emergentes de qualidade. Em particular, na música, esse momento reflecte uma grande variedade de estilos e de sonoridades que tem tido uma aceitação muito boa por parte do público. Claro que, boa parte das vezes, essa aceitação acontece depois de muito trabalho, de muita luta e de muito querer. É esse o caso desta jovem banda, For Pete Sake, com quem estive à conversa a propósito do seu trabalho e também do concerto que irão dar no Fusing. Este Verão já pisaram palcos como o do Rock in Rio, Optimus Alive, Super Bock Super Rock e em cada um os fãs conquistados foram imensos. Foi uma entrevista muito bem disposta, de uma energia muito genuína e se já gostava de música deles, passei também a admirar os músicos em si. Nuno Henriques, Vítor de Almeida, Vasco Magalhães, Daniel Canete, Pedro Sacchetti e Concha Sacchetti são os nomes deles e podem encontrá-los em: https://www.facebook.com/forpetesakeband

Fotografia por Sofia Teixeira

O início de uma banda é sempre um marco na sua história. For Pete Sake começou com Pedro, daí o nome da banda, para mais tarde receber Concha, a sua irmã, e os restantes membros. «Eu estava lá em casa, por acaso (risos), ouvia-o a tocar no quarto e uma vez disse-lhe “Eh, Pedro, vá lá, posso cantar contigo?” e o Pedro deixou.  (risos)», disse-nos a Concha. Brincadeiras à parte, a menina do grupo contou-nos que o Pedro já tocava com o Vasco «pela diversão do rock», o Vasco conhecia o Vítor «e disse que o Vítor era o ideal para se juntar a nós», entretanto, foram buscar o Daniel ao Hot Club, onde o Pedro estudava, e, por fim, «raptámos o Nuno da Box de ensaios! (risos)». Pedro completa: «Basicamente começou comigo a compor alguns sons, comecei a cantá-los com a Concha e então a base sempre foi essa, em harmonia de vozes. Depois veio o resto do pessoal e começámos a desenvolver a ideia da banda, cada um com o seu instrumento, com a sua influência musical, e For Pete Sake é o resultado dessa junção.»

O som de For Pete Sake é notoriamente uma mistura de várias influências – os traços de indie, rock, folk, estão lá, conjugados de forma harmoniosa e aprazível – e eu quis saber, em traços gerais, que influencias eram essas. A resposta foi imediata e quase em coro «São tantas! Mesmo entre nós, são muito diferentes.». Ainda assim, o Pedro e o Vasco contaram-nos que o facto de todos trazerem elementos tão diferentes, acaba por fazer com que tenham muito por onde explorar . «Por todos termos influencias tão diferentes, For Pete Sake acaba por ser essa versatilidade de músicas. Mesmo sendo diferentes umas das outras, fazem sentido e estão ligadas. Para quem nos ouve num concerto, do princípio ao fim, acaba por ser como uma viagem.» Os temas em si começaram com muito daquilo que o Pedro e o Vasco já tocavam, numa onda mais do rock, ao que depois foram juntando a voz da Concha e o que cada um dos seis tinha para dar à música: «Os For Pete Sake são aquilo que nós quisermos que seja, por isso cada um foi dando o seu cunho e quando estamos os seis a tocar, somos de facto os seis a tocar. O resultado é a forma como conseguimos ligar esses elementos e achamos que os ligamos bem. Já as influencias musicais iniciais estão mais relacionadas com as diferentes fases da vida do Pedro, recuperámos muitos temas antigos dele.», disse o Vasco. As influências directas do Pedro, extremamente eclécticas, são muito díspares «Desde Simon & Garfunkel a Dave Matthews Band, Radiohead, Black Keys, bandas de metal, bandas de world music… Eu sou fã de Metallica! Já fui sozinho para um mosh de Metallica! (risos)»

Apesar do curto trajecto da banda, For Pete Sake é um nome cada vez mais conhecido e a forma como este salto se deu é explicado pelo Pedro: «Fizemos um casting para um anúncio da EDP, ganhámos esse casting para a campanha, apadrinhámos, inclusive, o concurso de bandas que houve da EDP, e, por consequência dessa associação com a EDP, vieram os festivais. A divulgação através do anúncio e ainda o concurso da Antena 3 que ganhámos, acabaram por trazer o nosso nome cá para fora. Tivemos quase que dois processos em paralelo, uma pela televisão e outro pela rádio e ambos deram frutos. O anúncio, pôs-nos a música e a cara, mas as pessoas ficam sempre naquela “Mas isto é mesmo uma banda?”, afinal não há For Pete Sake escrito em lado nenhum. A Antena 3 deu-nos essa identidade logo à partida. Em contrapartida, quando a EDP nos colocou nos festivais, acabou por haver a essa associação completa.» 

É sabido que os inícios de carreira podem ser um processo moroso e difícil. Fazer o nome saltar para o público e comunicação social, depende muitas vezes do aproveitar de certas oportunidades e eu questionei-lhes sobre isto mesmo, dado o papel da EDP e da Antena 3 no lançamento da sua carreira: «O Daniel, quando isto começou a acontecer, disse uma coisa que eu acho que é a melhor metáfora para o que se deu “Nós estávamos no trânsito, juntamente com tantas outras bandas. De repente ligámos o pisca e começámos a ultrapassar.” Foi um salto muito grande.» disse o Pedro. O facto é que sem um trabalho inicial e muito empenho, não existe oportunidade que valha e foi isso mesmo que o Vasco sublinhou «Eu diria que é importante, mas nada é mais importante que a consciência que é possível lá chegar, trabalhando. Não ficar de braços cruzados em casa, é uma coisa que normalmente dá frutos, muito mais do que esperar que uma EDP nos venha tocar à porta. Se não nos tivéssemos trancado em casa a gravar os nossos temas por nós, de sair para o mundo dos cães, se não nos tivéssemos dado à luta, também não tínhamos ganho nada. Para recolhermos estes frutos, foi de facto essencial termos a consciência de que seria possível, confiarmos em nós e virmos cá para fora. Nós é que viemos à procura disto. Para a história dos For Pete Sake, a Antena 3 e a EDP acabaram por ser a gota de água, a gota final, que fez transbordar o pote.»

Se existe testemunho que serve como exemplo, este é um deles. Basta comparar o ano passado com este ano. Se o ano passado tocaram pouco, este ano ainda não pararam. Eles concorreram a tudo e mais alguma coisa, procuraram todas as oportunidades possíveis e esse esforço acabou por ser então recompensado. «Começámos a viver muito isto e quando queremos muito alguma coisa e trabalhamos para ela, ela acaba por acontecer.»

Todos têm a sua ocupação, sem ser a banda. Afinal ser músico a tempo inteiro é algo que ainda é muito difícil, mas todos dedicam o máximo possível do seu tempo aos For Pete Sake. O único que acaba por estar a tempo inteiro é o Pedro, que é também um pouco o manager da banda. «Faz ano e meio, dois anos, que é quase a full-time. Falar, enviar mails, gerir datas, etc. Afinal propusemo-nos a fazer tudo nós. Mas tem corrido tudo bem.», disse o Pedro. «Coitado, aqui o Pete Sake tem sofrido um bocado. (risos)», brinca o Vasco.

Quanto à discografia, esta é ainda curtinha, com um EP – Soothing Edge -, que não teve lançamento oficial, mas cujas músicas foram sendo lançadas e não há fã que não as saiba. Em relação ao primeiro álbum de longa duração, este já está idealizado, falta apenas gravar: «Optámos por decidir não lançar aqueles temas (do EP) como disco. Nós tínhamos mais temas gravados que podíamos juntar aos do EP e fazer um disco, mas queremos fazer algo diferente, com pés e cabeça. Como banda precisámos deste tempo, a tocar os singles que têm funcionado bem, a absorver as experiências e no fim fazermos tudo com calma. Também como banda, conhecemo-nos muito melhor agora do que antes, o nosso gosto está muito mais amadurecido.»  

Uma das coisas mais extraordinários com For Pete Sake, e que acaba por transformar estes últimos meses num fenómeno brutal, é a receptividade e o carinho do público em cada concerto. Desde portugueses a estrangeiros, as mensagens não param de chegar, tendo já sido feitos apelos para irem tocar lá fora. «Estamos agora a ganhar os fãs e não há nada como os concertos ao vivo. É super gratificante vermos que se ligam connosco, que gostam da nossa música, acima de tudo que reconhecem que somos um projecto português diferente.», explicou-nos o Vasco. Pedro completa evidenciando o facto de serem bem mais do que uma banda de anúncio de televisão: «Temos essa associação com o anúncio da EDP, mas é ao chegarmos ao vivo e dizermos “Nós somos os For Pete Sake” que transmitimos que não somos só aquela canção.»

Esta relação especial que se tem dado com a banda, deve-se também muito à imagem do elemento feminino, a Concha, que tem uma postura muito própria e que faz com que as pessoas se identifiquem muito com ela. «Ela é de facto aquilo que ela é. Seja dentro ou fora do palco. E a mensagem que ela passa em cima do palco, as pessoas arrepiam-se!, é uma coisa extraordinária. A Concha cria a música, sem dúvida, mas como personagem cria muito aquela aura dos fãs virem até nós.», explicou o Vasco.  Concha conta-nos que, em relação a isso, recebeu um comentário do senhor que trata das guitarras dos Blasted Mechanism, que acaba por explicar um pouco essa sua relação com o público: «”Tu és o altifalante da tua banda.”, disse-me ele. Porque eu projecto o que eles, instrumentalmente, transmitem. Eu estou a olhar nos olhos das pessoas, enquanto eles estão na cena deles com os instrumentos.»

Fotografia por Sofia Teixeira

Ser uma banda jovem, com toda esta projecção tão cedo, poderia ser um risco não fossem estas seis pessoas serem portadoras de uma ferocidade e querer únicos. Quando questionados sobre o futuro, a resposta foi imediata: «Sabemos muito bem aquilo que queremos e para onde queremos ir. Temos a nossa agenda preenchida até Janeiro. Vontade de trabalhar temos sempre e até Janeiro o nosso álbum estará cá fora. A partir daí dependerá, essencialmente, do público, mas não vamos parar. Temos os pés bem assentes na terra, sabemos que é preciso continuar a batalhar e nós temos vontade disso. O nosso álbum vai ser a retribuição de todo esse carinho do público até agora. E uma coisa é certa, mesmo que não tenhamos tanta aceitação de festivais no próximo ano, vamos continuar a trabalhar. Nós trabalhamos pela música e queremos tocar em diversos sítios sem ser em festivais.»

Um dos festivais em que ainda vão marcar presença neste Verão é o Fusing, que em si mesmo é um festival diferente dos demais, juntando Música, Gastronomia, Desportos Náuticos e Arte. Outro factor que marca este festival pela diferença é o facto de maioritariamente projectar bandas portuguesas e os For Pete Sake serão a primeira banda a actuar no palco principal do festival. A posição da banda em relação ao Fusing é de puro optimismo: «Em primeiro lugar, muitos parabéns ao Fusing, estamos mesmo ansiosos por tocar lá. Em relação a festivais com bandas portuguesas, nós atravessamos uma fase com muitos projectos novos, muito bons, e um festival como o Fusing é uma lufada de ar fresco. Portugal é invadido por estrangeiros nesta altura do ano e as bandas que cá vêm estão muito relacionadas com as marcas que acabam por dar dinheiro a esses festivais maiores que as trazem. O nosso país é barato, é um facto – tem Sol, tem praia, tem boa música, boa gastronomia – portanto o Fusing, no meio deste zumbido todo que anda por aqui, rasga isto tudo e vende o produto português, a cultura portuguesa, dando oportunidade às bandas portuguesas. É de facto um marco importante na música portuguesa o Fusing ter nascido. Que haja mais festivais como o Fusing.» 

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Não queria terminar este post sem uma nota sobre esta entrevista. Quando andamos nisto, dos blogues e das entrevistas, há algum tempo, mais de cinco anos no meu caso, encontramos todo o género de pessoas. Desde simpáticas a antipáticas, gratas a ingratas, fantásticas a banais, mas é certo que há aquelas que marcam pela diferença, que me fazem lembrar do porquê de nos darmos ao trabalho, não remunerado, de procurar e apoiar projectos portugueses. A entrevista com For Pete Sake deixou-me optimista, bem disposta e com esperança. Esperança que muitas barreiras se venham a quebrar, cada vez mais, e que haja uma consciencialização que há espaço para todos, assim haja também uma vontade férrea de trabalhar e de ser melhor. Esta banda tem tudo isso, para dar e para vender, e estou ansiosa por vê-lo já no dia 14 de Agosto no Fusing Culture Experience. Obrigada, malta! Que continuem com esse espírito, é tudo o que posso desejar, o resto já vocês têm naturalmente.

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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