Entrevista a Filipa Fonseca Silva, a Primeira Escritora Portuguesa a entrar no TOP 100 da Amazon

Filipa Fonseca Silva, é este o nome da primeira autora portuguesa a entrar no Top 100 de Amazon. Se antes já tinhas tido um autor pelo New York Times, a estreia feminina num top sonante internacional coube à Filipa e o que é certo é que, desde então, se havia alguém que nunca tinha ouvido falar nela nem no seu blogue, desde então é rara a pessoa que nunca tomou qualquer contacto com a sua pessoa ou obra. Também eu fiquei curiosa, e já tenho aqui O Estranho Ano de Vanessa M pronto para ser lido. Curiosa com o seu percurso e como foi estar num dos maiores tops de livros, contactei a Filipa e aqui fica o resultado. 

Fotografia de Vera Marmelo

Olá Filipa! Fala-nos um bocadinho sobre ti e os teus gostos.

Sou uma apaixonada pela escrita e pelas artes em geral, sou criativa numa agência de publicidade, sou mãe de dois bebés amorosos, sou obcecada por sapatos, ando sempre de bicicleta (porque tenha a sorte de trabalhar perto de casa) e não consigo viver sem praia. 

Qual foi o teu percurso até te tornares escritora?

Tirei Comunicação Social na Católica, com a ideia inicial de vir a ser jornalista, mas a meio do curso mudei de ideias e foquei-me na publicidade. Acabei por conseguir entrar no mundo dos anúncios em 2004, onde ainda trabalho. A escrita esteve sempre presente ao longo de toda a minha vida: sempre escrevi muitos contos e tenho um diário desde os oito anos! Também tenho um blog há mais de 10 anos onde partilho as pequenas coisas que vou escrevendo. Mas só no final de 2009 percebi que já tinha um livro de verdade na cabeça e foi assim que nasceu “Os 30 – Nada é como sonhámos” lançado em 2001 pela Oficina do Livro. 

Quais as tuas maiores referências literárias?

Eça de Queirós e Saramago pela genialidade literária e intemporalidade das suas obras. Isabel Allende, pelas mulheres heroínas que cria e que inspiraram a minha veia feminista durante a adolescência.

Como é que caracterizas o teu estilo e ritmo de escrita? Algum vício em particular?

É um estilo muito cinematográfico, fruto talvez da minha profissão. Uma linguagem simples e despretenciosa, sem floreados. O ritmo é muito rápido, com capítulos curtos. Escrevo como gosto de ler e o único vício é ouvir Radiohead ou Arcade Fire enquanto escrevo.

Como foi entrar no Top 100 da Amazon? Estavas à espera de o alcançar?

Não estava à espera porque a Amazon lança diariamente milhares de livros em todo o mundo e é muito difícil conseguir alguma notoriedade. Mas por outro lado, não foi uma surpresa avassaladora, uma vez que investi 14 meses a promover diariamente o livro.

O que muda quando se chega a um top como esse?

O acesso aos meios de comunicação social, que por sua vez abrem outras portas, como no meu caso, a porta da Bertrand que quis lançar o meu segundo livro “ O Estranho Ano de Vanessa M.”

A tua experiência como publicitária ajudou-te a traçar o caminho para esse sucesso?

Sim, tenho de admitir que ajudou muito, porque a maioria dos escritores não tem uma visão comercial do seu trabalho. Escreve apenas e fica à espera que o trabalho seja reconhecido. No meu caso, aliada à minha veia publicitária esteve a experiência do meu marido em Marketing. Aliás, a maioria das ideias de promoção do livro foi ele que as teve e ainda hoje está constantemente a procurar novas formas de promover o meu trabalho.

O que te levou a editar o livro na Amazon?

Como tenho vários amigos estrangeiros, que também inspiraram “Os 30”, percebi ainda durante a escrita que os temas que estava a retratar eram transversais a várias culturas e sociedades. Ou seja tinha um pressentimento de que era um tema que iria interessar a muita gente lá fora e daí a  decisão de mandar traduzir e publicar a versão inglesa na Amazon.

O modelo da Amazon é o ideal, ou ainda poderia ser melhor?

É um modelo justo. Sobretudo porque eles estão sempre a arranjar maneira de impedir que se faça batota (como a publicação de reviews falsas, por exemplo) e tentam que os livros subam nos rankings com base nas vendas reais. 

Será a autopublicação uma tendência para o futuro? Pelo menos para quem quer iniciar uma carreira na escrita em Portugal? Qual é a tua opinião sobre isso? Achas que as editoras andam a dar oportunidades suficientes a quem quer começar uma carreira na escrita?

A auto-publicação, com as ferramentas que hoje existem, é uma opção excelente, se o autor já tiver uma audiência (seja através do seu blog, seja por acesso aos Media).  Porque promover um livro é tão difícil quanto escrevê-lo e torna-se ainda mais difícil sem a garantia de qualidade de uma editora ou de um trabalho anterior. Além disso, em Portugal os ebooks ainda não são muito populares e fazer uma edição de autor em papel é muito dispendioso, além de haver também o problema da distribuição. 

O meu sucesso foi construído nos EUA, onde os ebooks já vendem mais do que os livros em papel e onde há uma cultura de meritocracia em que os leitores confiam mais nas opiniões de outros leitores do que em golpes de publicidade ou críticas dos especialistas. Ou seja, respondendo à segunda questão, em Portugal as edições de autor ainda são vistas com alguma desconfiança, por isso deve ser um passo dado com muitas cautelas.

Quanto às oportunidades das editoras para novos autores, a verdade é que são cada vez menos, porque os próprios editores em anos de crise como os que atravessamos, não podem/querem arriscar em livros que não sejam vendáveis. Os grandes grupos são empresas e, no fim do dia, querem vender livros, independentemente da qualidade literária. Por isso tantos livros e autores bons passam despercebidos e tantos livros e autores de qualidade duvidosa chegam aos tops.  É assim em todo o lado e o mesmo acontece com a arte ou com a música.

Editaste agora O Estranho Ano de Vanessa M em formato físico. Isso deve-se a alguma razão em especial? Achas que os ebooks ainda não têm expressão suficiente em Portugal ou um livro físico será sempre insubstituível?

Acho que é um bocadinho dos dois: os ebooks ainda não têm grande expressão e para quem gosta mesmo de ler, o livro físico é um objecto desejado. A minha decisão de publicar  O Estranho Ano de Vanessa M pela Bertrand deveu-se a isso e ao facto de só uma grande editora conseguir uma distribuição com visibilidade e um certo prestígio, claro.

Diz-se, muitas vezes, que o principal problema da edição em papel é a falta de visibilidade dos livros. Como é que se resolve esse problema em relação aos ebooks, num meio onde há uma quantidade ainda maior de livros a serem publicados todos os dias?

Com muito promoção e presença constante nas redes sociais, com contacto com bloggers e sites de livros, com pedidos para as pessoas darem a sua opinião e passarem a palavra, com algumas ofertas para pôr o livro a circular. É um trabalho quase diário e poucos autores têm paciência para o fazer, mas a verdade é que não basta um livro ser bom.

Esperas o mesmo sucesso para O Estranho Ano de Vanessa M?

Eu gostava e tenho trabalhado para isso. Vamos ver o que acontece.

De que fala este livro?

Este segundo livro é sobre uma mulher que tem um pequeno esgotamento nervoso, fruto do acumular de frustrações com vários aspectos da sua vida: um casamento prematuro, um emprego pouco gratificante, uma carreira que acabou por abraçar, mais por pressões externas do que por vocação, uma vida social quase inexistente. Durante um ano,  Vanessa é empurrada para uma série de episódios que a levam a questionar todas essas escolhas e a fazer mudanças drásticas, em busca de um final feliz. No fundo é uma história com que todos nós, num momento ou outro da vida, nos identificamos.

Mas podem ler o primeiro capítulo aqui e satisfazer um pouco a curiosidade: http://goo.gl/tNWiq8

Esperas um dia conseguir viver da escrita?

Sim, espero ansiosamente por esse dia. 

Que páginas tens ainda por inventar?

Milhares! Tenho tantos livros na cabeça e tão pouco tempo para escrever .



Lê aqui o 1º capítulo do novo livro ” O Estranho Ano de Vanessa M.”: http://goo.gl/tNWiq8

O blog de Filipa Fonseca Silva: http://cronicasdumafashionvictim.blogspot.pt

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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