[Palavras Leva-as o Vídeo] “Marcha dos que voam”, de Galo Cant’às Duas

Fotografia Joana Linhares

Marcha dos que Voam | Galo Cant’Às Duas

A descoberta das imagens que se ligam ao videoclipe da “Marcha dos Voam, aconteceu em Outubro, Novembro e Dezembro de 2016, e foi um desafio, maior, para nós.

Desafio maior por desde muito cedo ter surgido a curiosidade em descobrir: qual a história a ser contada, como ligar a música a uma história, criar uma narrativa, para esta viagem e para a “Marcha dos que Voam” em particular, e, esse momento, momento de criação, quando acontece, é diferenciado pela forma como nós fazemos a música. Pensámos numa narrativa: sim, tivemos no máximo duas histórias relativamente aproximadas. Ambas coincidiam na procura de algo: de pessoas, de talismãs, de objectos, de algo, mas não foi muito intuitiva a forma de começar a estruturar as coisas.

Por várias razões nós estamos rodeados de amigos enormes, com uma extrema sensibilidade estética e artística e como consequência somos obrigados – e por isso estamos agradecidos – a incluir nas nossas rotinas uma preocupação maior na procura nas outras artes plásticas e performativas – procura  de diferentes texturas, abordagens, perspectivas da vida, do mundo, do cosmos, da nossa existência. Esta descoberta em cada uma das nossas personalidades – diferentes, claro – traz também para a música e para este videoclipe de uma forma leve aquilo que é o início de uma viagem, a primeira de um Ser, a “Marcha dos que Voam”.

O Argumento foi discutido várias vezes com a Joana Linhares – companheira desde sempre do Galo – que nos refrescou as ideias com aspectos tão técnicos como narrativos, e,  houve portanto e no entanto um consenso bem forte em relação ao lugar onde foi rodado o videoclipe, aos personagens da história e claro que à narrativa criada por todos. O Argumento original foi falado ao telefone com o amigo António Sanganha – que acompanha o Galo desde o seu nascimento – e adaptado por nós e pela Joana Linhares.

As crianças – filhos de amigos do Galo – foram a maior surpresa para nós pela total liberdade, espontaneidade e leveza destes Seres, – que é mágica – e isso está bem gravado nas nossas memórias. Nós tínhamos um guião que quase foi cumprido, e este quase tem tanto haver com aspectos técnicos como da predisposição das crianças. Durante a rodagem do videoclipe aprendemos que para fazer as coisas bem devemos estar bastante unidos e focados no que queremos – como na música acontece – e aprendemos também que as crianças são os Seres mais livres e mais inconsequentes e isto deu-nos bastante confiança na nossa ideia original: da procura, da liberdade, do simbolismo, do ser mais puro e deu também coisas que nós não queríamos e que funcionaram.

A escultura que não é totalmente revelada no vídeo, assim continuará, pouco visível para já. É uma réplica esta escultura, réplica de um original “sem título” da escultora Cristina Vouga. Cortámos em pedaços a escultura – cinco – , aprendemos que precisamos de mais tempo para fazer as coisas bem. O gesso não seca à velocidade que queremos, é necessário tempo, a nossa velocidade é sempre maior, mas é menor. O tempo em que rodámos o videoclip deve ter chegado a 24 horas.

Este videoclip traduz bem a descoberta de novos desafios, a velocidade em que pensamos e vivemos as coisas

Quanto à técnica e à estética, esta foi sendo criada e adaptada, pelas manifestações do meio, pelo sol que perfurava as árvores, pelas crianças que preferiam não abdicar das suas brincadeiras, ou da construção de uma “casa” no meio de uma floresta. Mas ainda assim como realizadores, eu, Joana e o Jérémy, conseguimos com mais um pedaço de pressão saudável, organizar mentalmente as ideias e estarmos predispostos ao que nos podiam dar.

Era tudo novo para todos. Para nós pela forma como lidávamos com 8 crianças em plateau. Para os Galos que de tanto voar era difícil manterem os pés descalços na terra, mas que encararam esta marcha como um voo que se repetia entre takes. E claro, para as crianças que todas juntas encararam as palavras “dancem em volta aos galos” como um manifesto saudável de pequenas loucuras selvagens, que nos fizeram mais rir do que propriamente captar cuidadosamente o momento. Por outro lado, foi essa inocência que estava descrita no guião, pela procura pela liberdade, a descoberta, a igualdade, entre outros conceitos que resultaram em momentos espontâneos de criação por parte das crianças, que a certa altura nos ordenavam que captássemos uma cena que eles próprios inventaram.

Foi, portanto, um processo de criação conjunto e muito reconfortante, que mais tarde, em fase de montagem nos deu dores de cabeça, mas que nos deixou muito satisfeitos. Foi um processo tão pensado quanto livre, que se montou, desmontou e renasceu na montagem através dos diferentes momentos que a própria música tem.

Galo Cant’às Duas

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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