Opinião: O Diabo, o Relojoeiro e a Máquina dos Sacrifícios, de Michael Marshal Smith

O Diabo, o Relojoeiro e a Máquina dos Sacrifícios

Michael Marshal Smith

Editora: Topseller

Sinopse: Imagine, caro leitor, a oficina de um relojoeiro. Imagine ainda que esta história se passa num mundo banal e que o relojoeiro é, também ele, um homem normal… com um talento extraordinário. Até ao dia em que alguém entra na oficina com o mais invulgar dos pedidos: uma máquina para converter a maldade do mundo em energia. Quem (pergunta-se o leitor) quererá esta bizarra extravagância? Ora, ninguém mais do que o próprio Diabo… Que, como se sabe, tem formas muito persuasivas de obter o que deseja. Passaram-se séculos, e o Diabo e a sua máquina estão a ter problemas. É então que, acidentalmente (embora se suspeite de uma certa influência maligna), a pequena e ingénua Hannah Green é arrastada para uma tenebrosa aventura maquinada pelo Diabo. Preste bem atenção, estimado leitor, pois aqui começará também a sua história, num mundo onde as aparências enganam e as coincidências não existem.

OPINIÃO: Se há uns anos lia toneladas de literatura fantástica, a verdade é que nos últimos três/quatro anos me tem dado para explorar o romance e a não-ficção. Não o romance romântico, mas aqueles mais estranhos, que quase não sei como classificar. Será da idade? Não faço ideia. Do que eu também não fazia ideia é que o bichinho pelo fantástico/ficção científica podia ser encontrado num livro que me chega de surpresa, mas que boa surpresa! O Diabo, o Relojoeiro e a Máquina dos Sacrifícios, de Michael Marshal Smith, editado pela Topseller, ganha logo uma série de pontos pela capa. Eu sei, não devemos julgar um livro pela sua cara porque o interior pode ser sempre uma surpresa, para o bem ou para o mal. Aqui a questão é que estamos perante o “casamento” perfeito. O título, um pouco distante da tradução literal do original, é está muito bem conseguido, a capa aguça o suficiente a curiosidade e a história vai fazendo as delícias de quem lê.

Estamos perante um livro que consegue tocar em várias estéticas literárias e ainda consegue explorar várias texturas, desde cénicas às personalidades dos seus protagonistas. Em cada personagem encontramos características únicas que nos dão diferentes perspectivas sobre as mesmas situações. Nunca tinha lido nada deste autor, mas gostei do ritmo que impôs à narrativa, da forma cénica com que foi descrevendo cada momento e acima de tudo gostei do equilíbrio no confronto entre a perspectiva mais inocente de Hannah com a suposta malevolência do Diabo. 

Os primeiros capítulos foram fundamentais para me prender a esta leitura. O mistério crescente, a tentativa de associar quem era quem até tal nos ser revelado, viram depois em Hannah o momento de revelação. Esta pequena adolescente vive num ambiente familiar delicado, com os pais a separarem-se. É precisamente esse atrito e o facto de o pai se ver algo perdido – o pai é um escritor de séries que não atravessa uma boa fase na sua carreira – que Hannah é “recambiada” para passar algum tempo com o avô. Hannah, que sempre gostou muito dele, aceita de pronto e é aqui que a verdadeira aventura começa. É difícil escolher uma personagem preferido. Consigo dizer que o pentáculo que mais me agradou foi Hannah, o avô, o Diabo, o demónio Vaneclaw e a tia Zoe. Estes dois últimos acabarão por desempenhar papéis bastante cruciais em certos pontos da trama, provocando em nós sentimentos de grande empatia. 

Hannah é a verdadeira aventureira, capaz de fazer tudo pelos pais. O que não estava bem à espera era de vir a ter uma relação especial com o Diabo e até de vir a ter um papel preponderante no desfecho da Máquina dos Sacrifícios. Até lá, terá de viver inúmeras aventuras que servirão para expor medos e fragilidades do ser humano, e também de nos fazer questionar porque é que o mal existe e em que medida é necessário para haver equilíbrio no universo. Este livro, mais do que passarmos um bom tempo a ler, serve para nos levar um pouco ao tempo em que éramos mais inocentes, ao mesmo tempo que nos incita a olharmos para o mundo com um renovado fascínio. Gostei. 

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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