Entrevista a Nuno Nepomuceno – Uma viagem a Pecados Santos – Morte, Fé, Sexo, Traição

Nuno Nepomuceno, escritor já bem conhecido aqui no blogue, apresenta na próxima semana o seu mais recente romance Pecados Santos. Já se encontra em pré-venda e estará disponível para compra a partir do dia 19 de Janeiro. Dado que o acompanho desde o início da sua carreira, esta era uma conversa que urgia acontecer. Relembro que logo nos primeiros dias de 2018, não só apresentei a Nova Imagem, Novo Romance, Nova Editora do autor, como também todo o percurso para cada etapa nos seus Diários de Bordo. Segue a entrevista. Brevemente escreverei também a opinião do livro. 

Podemos dizer que a tua carreira literária, composta por uma trilogia e um romance a solo, tem sido em crescendo. Que balanço é que fazes da trilogia Freelancer e d’A Célula Adormecida?

Positivo, felizmente. Há dois livros que destaco. O Espião Português, porque foi um êxito comercial inesperado, tendo já vendido mais de 4000 exemplares. Em Portugal, tudo o que superar a marca dos 1500 é considerado um grande sucesso.

E depois há A Célula Adormecida. Considero que beneficiou da experiência que adquiri com a trilogia, mostrando um escritor mais maduro, para além do reconhecimento que me trouxe. Há um antes e um depois na minha carreira marcado pela edição desse livro.

Está prestes a sair um novo romance que promete dar que falar. O que é que nos podes desvendar sobre ele?

Trata-se de um thriller passado no seio das comunidades judaicas de Londres e Lisboa, onde uma série de homicídios inspirada em episódios bíblicos começa a ocorrer. Mas não vai ser a intriga ou as descrições dos crimes que irão dar destaque ao livro. A narrativa é muito forte e integra capítulos de grande violência psicológica e sexual.

Antes de mergulharmos no livro em si, o processo até este estar terminado foi tudo menos linear. Mudaste de editora, vais ter um site novo, uma imagem nova. Está a ser fácil esta transição?

Tem sido suave e compensatória. A Cultura Editora, apesar de ser uma chancela recente, é liderada por uma equipa muito experiente e profissional, que tudo tem feito para corresponder às minhas necessidades enquanto autor do livro. Acho que cheguei finalmente a casa.

A renovação da minha imagem e site tem dado um pouco mais de trabalho, pois exigiu várias reuniões e deslocações, mas já terminou. Os resultados falam por si. Eu nunca fui tão popular como neste momento e estou grato aos profissionais que me acompanham atualmente, não só pela competência que têm, mas pela inspiração que me dão, motivando-me a fazer ainda melhor e a exigir mais de mim.

Pelos Diários de Bordo publicados, dá para ver que tens sempre um processo criativo muito preciso e organizado. Queres partilhar com os teus leitores as tuas bengalas na escrita dos teus romances?

Não considero ser possível ensinar alguém a escrever um livro. Cada um tem o seu método e ou sabemos intimamente o que fazer, ou nem vale a pena tentarmos. Julgo ser esse o mal de todos aqueles que não acabam ou não publicam. Não se pode partir para a redação de um livro a achar que vai ser fácil ou sem ter uma noção concreta de o que se quer fazer

A partir daí, para mim, tudo começa com a pesquisa. Tenho uma ideia, junto-lhe um título e vou aprofundar o conceito que tenho dentro da minha cabeça. Findo este processo, arranco com outro, ou seja, visitar os locais que escolho para a ação, se não os conhecer já. Isso, normalmente, traz-me logo algumas imagens. E depois começo a escrever. Redijo, reescrevo, corto, mudo, edito, revejo e avanço. Não desisto até estar satisfeito.

Ficas muito desamparado quando há algo que não corre como o previsto?

Os meus livros fazem parte de mim e cada obstáculo com o qual me deparo dói sempre muito. Mas celebrei recentemente 5 anos de carreira e com o tempo tenho aprendido a lidar com isso, a ignorar o que não passa de ruído.

Como é que acabaste por conseguir escrever este teu último livro dentro do prazo que tinhas estipulado, se umas semanas antes te parecia impossível?

Acho que a minha experiência acabou por ser fundamental. Tenho o meu método, no qual confio, e não permito desvios. Apesar de me ter atrasado, eu sabia que iria progredir mais depressa na 2ª parte do livro, pois tal acontecera sempre anteriormente. O mais complexo é construir a casa. Se as fundações foram bem executadas, fechá-la e acabá-la poderá tornar-se extremamente simples. E depois existiu outro fator, o qual foi preponderante. O facto de ter optado por narrativas diferentes e mais ousadas, motivou-me. E isso é essencial na superação.

Mergulhando agora em Pecados Santos, quais os maiores desafios que encontraste ao escrevê-lo?Encontrar motivação. Acho que sou um escritor que tem apresentado sempre livros com qualidade e que tem feito um esforço para não repetir fórmulas. Tu própria reconheceste isso quando leste A Célula Adormecida, o quão inovador era. Mas ver o nosso trabalho partir constantemente em desvantagem face à concorrência só porque esta vem de fora e eu sou português, pode tornar-se difícil de enfrentar. Entre um thriller meu e o de um autor estrangeiro, a maioria dos leitores irá preferir comprar o segundo, apesar de muitas vezes nem sequer ter alguma vez ouvido falar no escritor. Nós achamos sempre que o que fazemos é de qualidade inferior.

Nenhum dos teus outros romances tem essa componente de violência psicológica e sexual tão desenvolvida. Que reação esperas dos teus leitores?

Será uma surpresa, pois tenho uma imagem discreta, de alguém que não é transgressor, mas acho que vão gostar. Não se trata de erotismo ou violência gratuita. São momentos catalisadores da ação, que a fazem avançar, que motivam as personagens a agir ou evoluir. Gosto de pensar que qualquer leitor aprecia um livro com personagens bem desenvolvidas. A minha intenção foi apenas essa, enriquecer a intriga, oferecendo-lhe novas dimensões. Poderei estar a chocar algumas pessoas, mas na realidade não trago qualquer novidade. Todos sabemos que o ser humano é capaz de uma crueldade indiscritível.

Achas que esta introdução na tua escrita mostra outra faceta de ti enquanto escritor?

Sim, mais uma. Julgo que nunca irei copiar o modelo que utilizei no livro anterior para redigir o seguinte. Não acredito nisso. Para mim, a escrita tem de ser motivadora, desafiante. E eu quero que os meus leitores sintam que são fãs de um escritor imprevisível, que a qualquer momento poderá surgir com algo completamente inesperado.

De onde vem o teu interesse pela religião?

Tem sido uma oportunidade de aprendizagem, sobretudo. Sejamos nós crentes ou não, a religião faz parte das nossas vidas. Há todo um conjunto de referências com as quais convivemos diariamente e que não compreendemos na íntegra. Para escrever sobre elas, e assim perceber melhor a sociedade em que me insiro, tive de as estudar primeiro. De uma certa forma, escrever sobre religião é uma forma de me tornar numa pessoa melhor.

O que é que te tem motivado a escrever neste tema?

A noção de que, ao fazê-lo, estarei a contribuir para a informação dos meus leitores. Poderei tocar muitos ou quase nenhuns, mas se o conseguir fazer com alguém, já será suficiente para mim. Para além de que os thrillers religiosos são um género que sempre me atraiu. Poder transportar este tipo de elementos para um livro meu é um desafio.

Os teus livros acabam por ser uma forma interessante e empolgante de saber factos históricos e referências religiosas. Achas que é importante as pessoas terem consciência das diferenças entre as diversas religiões?

Muito, sim. Se pensarmos bem, grande parte dos conflitos que persistem atualmente têm origem em diferentes fés. É o caso da Guerra Civil na Síria ou da tensão existente em Israel, o que depois tem repercussões a outros níveis com efeito direto no Ocidente, como os movimentos migratórios no presente ou a 2ª Guerra Mundial no passado. Ao mostrar o que é na realidade o verdadeiro Islão, como fiz com A Célula Adormecida, ou ao desmistificar a crença judaica, como faço agora com Pecados Santos, espero contribuir para que as pessoas se tornem mais esclarecidas e, como tal, mais tolerantes. Há demasiado ódio na nossa sociedade.

És um homem religioso?

Fui educado de forma católica, tal como a maioria de nós, portugueses, e acredito na existência de Deus. Atualmente frequento a igreja apenas em ocasiões especiais, como cerimónias, embora tente reger a minha vida e o meu comportamento de acordo com a educação que me foi dada.

O que é que os corvos, que por norma estão mais ligados ao paganismo, realmente significam para ti?

É uma pergunta curiosa, esta. Para mim, são apenas aves. Vejo-as com frequência na zona onde resido, a voar em círculos sobre as casas ou pousadas nos campos. Para Afonso, o protagonista dos meus dois últimos livros, é mais como um mau presságio. Os corvos marcam episódios traumáticos da vida deste homem. O professor Catalão sente-se intimidado por eles.

Quanto de ti tem o protagonista?

Pouco ou quase nada. Há sempre um ou outro ponto de contacto, que poderei ter introduzido em momentos de menor inspiração, mas com o tempo tenho aprendido a manter um certo distanciamento. Escrever é menos doloroso assim.

Não podia terminar esta entrevista sem referir um ser que já quase todos os teus leitores conheceram ou viram em alguma fotografia. Tens um patudinho muito bonito contigo, o Kimi. Que papel é que ele tem tido na tua vida tão atribulada entre o trabalho e a escrita? Ele deixa-te escrever sossegado ou anda sempre à tua volta?”

Eu resido numa vivenda e o Kimi fica na rua. Costumo dizer que assim, cada um tem a sua casa e o seu espaço. Como escrevo sempre com o apoio de alguns documentos em papel, como apontamentos de pesquisa ou sobre o enredo do livro, trabalhar no exterior não se torna muito prático. Faço-o dentro de casa, sendo, por isso, mais fácil concentrar-me. Mas normalmente, se tenho o dia todo para escrever, acabo por ir realizando vários intervalos, durante os quais lhe dou atenção. Às vezes não consigo e tenho de regressar ao trabalho, porque ele está a dormir. Como é novinho e tem alguma dificuldade em estar sossegado, faz muitas sestas.

Por outro lado, também reorganizei as minhas rotinas diárias desde que o trouxe para casa. Passei a levantar-me mais cedo para o poder passear de manhã e ficar com algum tempo livre para trabalhar, além de ter abdicado da prática desportiva, que faço atualmente com menos regularidade. São opções que mudaram o meu estilo de vida, mas das quais não me arrependo. Trata-se de um cão muito afetivo, que faz imensa companhia. 

E agora aquela pergunta da praxe. Apesar de este romance não estar sequer apresentado, já tens ideias para um novo? Ou vais esperar para ver como este é acolhido?

Já. Mantenho um bloco de notas onde registo algumas das ideias que vou tendo, o qual já tem algumas páginas preenchidas. Algumas delas poderão ser aproveitadas, outras até mesmo descartadas. Mas ainda não tomei qualquer decisão, além de que, findo o período mais intenso de promoção a este livro, irei tirar alguns meses para descansar, nos quais nem sequer irei fazer pesquisa. Pecados Santos deixou-me exausto. É um livro muito intenso. E eu sinto que não tenho mais nada a provar.

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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