Opinião: A Rapariga no Comboio, de Paula Hawkins

A Rapariga no Comboio

Paula Hawkins

Editora: TOPSELLER

Sinopse: Todos os dias, Rachel apanha o comboio…

No caminho para o trabalho, ela observa sempre as mesmas casas durante a sua viagem. Numa das casas ela observa sempre o mesmo casal, ao qual ela atribui nomes e vidas imaginárias. Aos olhos de Rachel, o casal tem uma vida perfeita, quase igual à que ela perdeu recentemente.

Até que um dia… 

Rachel assiste a algo errado com o casal… É uma imagem rápida, mas suficiente para a deixar perturbada. Não querendo guardar segredo do que viu, Rachel fala com a polícia. A partir daqui, ela torna-se parte integrante de uma sucessão vertiginosa de acontecimentos, afectando as vidas de todos os envolvidos.

Opinião: Um bom Thriller acelera-nos o batimento cardíaco de tal maneira que damos por nós a virar página após página sem sequer nos apercebermos do tempo a passar. Em Parte Incerta, de Gillian Flynn, obra com a qual A Rapariga no Comboio tem sido comparada, teve esse efeito em grande parte dos leitores, eu incluída. Vi-me a consumir páginas como se fossem gomas, sem qualquer precaução, só queria mais. Quando a base de comparação é algo que nos fascinou bastante é razoável avançar com cautela para uma nova aventura que se diz ser par da anterior, pelo menos no estilo. E a verdade é que à medida que fui avançando na leitura desta obra, houve essa familiaridade na estrutura, no apelo ao mistério, na procura do que realmente se terá passado.

Às vezes dou por mim a tentar lembrar-me da última que tive alguma espécie de contacto físico relevante com outra pessoa, nem que tenha sido um abraço ou um aperto de mão caloroso, e sinto o coração estremecer-me. 

Paula Hawkins construiu um enredo com três narradoras que assumem o protagonismo central e que à sua maneira nos vão relatando aquilo que precisamos de saber para ligar os pontos. Tal como em Parte Incerta, parte da narrativa vai ocorrendo com registos do passado até apanhar o presente, até nos ser revelado o desfecho final. Não tendo sido uma surpresa para mim, talvez por ter uma mente muito especulativa, não me senti defraudada pois a verdade é que ultrapassado o primeiro terço do livro, não mais conseguia parar. Mesmo podendo antever o que se iria passar, a leitura foi apelativa o suficiente para me manter em estado de alerta. 

Perdi o controlo sobre tudo, até sobre os lugares dentro da minha cabeça.

Tenho para mim que o ponto forte do livro está relacionado com as personagens e com a forma como os vários temas vão sendo abordados. Pelos excertos que aqui partilho convosco, conseguimos perceber que estas encarnam pessoas muito humanas, com problemas tão reais como aqueles com que somos confrontados no dia-a-dia. Existem, no entanto, aqueles toques subtis de loucura, de alguma irracionalidade que intrincam ainda mais a acção, obscurecendo os cenários com que somos confrontados.

Tenho de a aceitar, não vale a pena ignorar esta sensação. Vou sentir-me péssima durante todo o dia. Há de chegar em ondas – mais forte e depois mais fraca e depois mais forte outra vez -, aquele nó na barriga, a angústia da vergonha, o rubor a subir-me às faces, os olhos muito apertados como se assim pudesse apagar o que fiz. 

Se um dos personagens é psicólogo, é certo que ainda antes de o conhecermos já andamos nós a tentar incorporar as emoções de cada um. O que faria eu no lugar dela? Como reagiria à reacção dele? Não é que tenha sentido uma empatia particular por alguma das personagens, mas a cada momento foi inevitável tentar perceber as motivações e que consequências viriam das suas decisões. A humanidade e o realismo da trama dão-nos uma sensação algo vertiginosa e até arrepiante. Sem dúvida que a autora soube como impregnar a sua escrita de uma boa dose de adrenalina.

É ridículo, se pensarmos bem no assunto. Como é que vim parar aqui? Pergunto-me quando começou o meu declínio; em que ponto poderia tê-lo travado.


Resumindo, é um livro ao estilo de Em Parte Incerta que se lê rapidamente e que mistura a paixão, o medo, a solidão e a irracionalidade com uma frieza arrepiante. 

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2 Comentários
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Unknown
Unknown
8 anos atrás

Quero tanto ler esse livro ;__;

Carla
Carla
8 anos atrás

Adorei este livro, devorei-o literalmente, é fantástico. Tem um final extraordinário, nunca imaginei tal final.
Beijinhos e boas leituras.

  • Sobre

    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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